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Violência - Não há o que fazer

Escrever é sempre um desafio, enfrentar uma tela branca organizar as ideias e transcrevê-las de forma que fique coerente, no meu caso é um pouco mais complicado porque tendo a pensar nas complexidades das coisas e é bem difícil simplificar ao escrever, pois imagino que tem coisas que não deveriam ser simplificadas, não sei, parece que perde um pouco do valor da ideia e a torna uma sombra ou imitação, mas vamos lá, às vezes é preciso vencer a resistência inicial da inércia e começar a escrever. Agora, escrever sobre o quê? Diferente do que acomete muitos autores o problema atual é a abundância de temas interessantes e pertinentes que abarcam nosso cotidiano, temas grandiosos quanto os desdobramentos da operação Lava Jato, os debates das reformas, o atualíssimo debate no STF sobre como proceder com as prisões provenientes da 1ª instância, e isto para ficarmos apenas no cenário nacional sem considerar a perseguição homofóbica na Chechênia, atentados contra cristãos em algumas nações islâmicas, aumento da expressão ideológica da direita na Europa, a invenção e a constante utilização da "pós verdade", o clima de tensão de guerra entre Coreia do Norte (China) e Estados Unidos, enfim como disse temas grandiosos, mas exigem uma intimidade maior com os fatos, algo que absolutamente não impede um blogueiro de participar com seus achismos, mas para retomar prefiro partilhar com os meus leitores algo que me esteja mais próximo, mais cotidiano a ponto de ser confundido com rotina e ser naturalizado. Estou falando da violência no Rio de Janeiro, especialmente na cidade.
Apesar da ebulição política que a cidade respira em torno de manifestações contra as reformas com incêndios a ônibus, vidraças quebradas, e lixos incendiados nas ruas, não pretendo discutir sobre suas justificativas ou ainda a ação repressora da polícia seja para os  ditos "baderneiros" seja com os manifestantes, e olha que pelo que tenho visto em outras mídias este tema têm rendido bastante.
 Neste momento desvio deste assunto não para buscar uma originalidade (Ah, quero sim!) ou porque não tenha um posicionamento sobre o assunto, mas por que este tipo de violência é de um modo diferente do que quero apontar. As violências nas manifestações seguem, de uma forma, uma espécie de roteiro, então quando há uma ação popular contrária a agenda do governo somado com alguns grupos radicais que infiltrados na massa dos manifestantes é normal esperar que enfrentamentos aconteçam, portanto não é sobre isso que quero falar, pelo contrário é algo mais sútil.
Um sentimento tem crescido entre as pessoas do meu bairro, sim um crescimento o de insegurança, vivo na periferia da cidade, diria na periferia quase rural, onde crescemos dando bom dia a quem cruzava nosso caminho, ficávamos na rua a tarde para a cesta e crianças brincavam até a hora que sua energia se esgotava, por voltas das 1h da manhã em época de férias, no entanto, aos poucos esta rotina foi alterada, hoje a partir do anoitecer o movimento pelas ruas acabam, qualquer som de moto é sinal de perigo de assalto, andar distraído é sinal de tolice, pois o torna alvo.Mas não entendam mal, o que acontece no meu bairro é consequência de algo que vem se alastrando do centro, onde nenhum local é seguro o bastante para transitar.


Roubos acontecem, nas calçadas, em estabelecimentos, nas ruas, até mesmo nos meios de transporte.Há um sentimento crescente de extrema vigilância pela população para não engrossar as estatísticas. 
Esta semana várias mídias noticiaram estudos de como a violência aumentou na cidade e de sua relação com o Estado quebrado pelo cenário econômico ou pela corrupção edêmica, em o quanto era esperado pelas UPP's e devido a falência do governo estamos retornando a passos largos às estatísticas de 2002. Imagino o quão difícil têm sido para polícia estar a mercê de uma estrutura falida que não consegue suprir suas ferramentas de trabalho e muito menos sua remuneração, mas como se não bastasse isso é constantemente arrastada para o debate político através de juízos de valores. Aqui no Rio quando paramos para observar algo tão complexo quanto o que está acontecendo temos uma expressão que sai de nossa boca como reflexo: "É complicado!"
É sim, mais ainda para a população que não tem apoio econômico de organizações do comercio para garantir uma segurança extra, afinal você caro leitor já deve ter ouvido falar no Centro Presente, Flamengo Presente, Lagoa Presente, entre outros, mas te pergunto como Bangu Presente e Campo Grande Presente têm trabalhado? Pois é não há. Esta seleção dos bairros com segurança extra diz muita coisa, mas vamos declinar deste tema também por ora.
O que têm me impressionado é a rotina da periferia, um morador consegue discernir o barulho de tiros em meio aos fogos, engarrafamentos de trânsito é sinal de perigo, pois podem ser sinal de arrastão, assaltos são noticiados diariamente em páginas do Facebook locais, as rádios e noticiários nem mencionam mais, pois se tornou rotina. É assustador o fato de naturalizarmos isso! Ter sempre na carteira os R$ 10,00 do bandido para em caso de ser o escolhido da vez não ser tão esculachado, ou ainda ter em mãos um Smartphone antigo para dar no local do atual no assalto e estar sempre antenado pelas novas estratégias de assalto que os grupos de WhatsApp divulga. "Complicado"... têm sido difícil ser carioca nestes tempos, a Copa e as Olimpíadas acabaram e como legado estamos com esta insegurança pública que já vitimou em torno de 60 agentes de segurança no primeiro semestre sem falar das vítimas civis. O que deve ser feito pra corrigir? Muita coisa, mas a impressão que tenho é que há coisas mais importantes para se preocupar agora, lembra dos temas apontados no início deste texto? Pois é, teremos que ser resilientes até que voltemos a ser prioridade e esta desesperança é uma violência moral, intelectual, social que temos vivido. É o "Não há o que fazer", conseguem imaginar o que é isso? Se tornar um preso em sua casa, ou pela rotina de checagem de segurança? Em, alguns lugares no interior do Estado ainda é possível experimentar como a vida é mais simples do que temos vivido, mas até quando? Tomar conhecimento que a cidade de Paraty tem enfrentamento de facções me assustou muito, não tenho perspectivas locais e serei eu e mais outros como eu, sem perspectivas, que iremos apontar quem será nosso próximo governador e presidente em 2018, não nos menospreze, somos um grande bloco de eleitores esquecidos e abandonados a desesperança. Terra fértil para ideologias extremas seja de que pólo for semeado, esquerda ou direita.

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